Parte 1
Divido meu apartamento com mais quatro meninas — somos todas universitárias, vivendo juntas numa república. Minha colega de quarto anterior se formou e foi embora assim que terminou o curso. A vaga ficou aberta e, claro, todas nós estávamos ansiosas pra saber quem seria a nova moradora.
Ela foi escolhida depois de uma entrevista. Parecia centrada, na dela, bem quieta. Se vestia sempre de preto, usava uma maquiagem que deixava a pele ainda mais pálida… segundo ela, curtia esse estilo meio gótico, coisa de quem, segundo as palavras dela mesma, “gosta de sentir o peso da noite até de dia”.
Pra mim, sinceramente, só precisava tomar banho e não ser completamente maluca — já tava ótimo. Não dava pra escolher muito: o semestre já tinha passado da metade, e as contas iam chegar bem antes dos novos calouros.
No sábado de manhã, ela apareceu. Sol a pino… e ela, impecável, toda de preto: blusa de manga longa, calça justa, coturno, óculos escuros e até a maquiagem carregada, desafiando o calor como quem não está nem aí.
Parei pra prestar atenção nela com mais calma e percebi… como ela era bonita. Não daquele jeito óbvio e espalhafatoso, mas com uma elegância discreta, magnética. Era magra, mas tinha curvas — seios firmes, uma bunda marcante, uma postura ereta que parecia sempre segura, como quem sabe exatamente o que está fazendo ali. O rosto era delicado, traços finos, um nariz pequeno e bonito… mas aquela maquiagem, tão pálida, com os olhos e a boca escurecidos, dava um ar meio fúnebre que, ao mesmo tempo, não conseguia apagar o brilho dela.
Era curioso… parecia que ela se escondia atrás daquela maquiagem, mas não de um jeito covarde — mais como quem escolhe cuidadosamente o que revela e o que guarda.
Claro que demos um apelido pra ela, e ela nem ligou, pelo contrário: soltou um meio sorriso, aquele tipo de expressão que não entrega nada, mas que faz você querer saber mais, e só respondeu: “Adoro. A Gótica Rabuda. Ótimo.”
Como boa colega de quarto, ajudei com as malas. Nada demais: roupas pretas, algumas camisetas de banda, livros de literatura pesada, uns romances clássicos, uns volumes de filosofia… e, claro, aquele pôster horroroso de uma banda esquisita de rock que ela pediu pra pendurar no quarto. Nem me opus.
Naquela noite, já mais ambientada, o apartamento estava silencioso. Tarde da noite, só nós duas ali. Ela avisou que ia tomar um banho — “tô morta”, disse, com aquele tom preguiçoso — e sumiu no banheiro, demorando-se como quem precisava se recompor depois de um dia puxado.
Eu fiquei no quarto, deitada na cama, ouvindo música, meio anestesiada de cansaço também. A gente tinha passado o dia todo arrumando as coisas dela, pendurando o pôster esquisito, rindo, conversando… e, no fundo, eu estava sinceramente gostando dela. Era fácil, sabe? Ela tinha aquele humor ácido, meio irônico, e ao mesmo tempo uma doçura escondida, só pra quem prestasse atenção.
Quando ela saiu do banheiro, eu demorei alguns segundos pra entender o que estava vendo.
Nada de preto, nada de maquiagem pesada… só ela, de pele limpa, rosto sem nenhuma sombra, cabelos ainda úmidos caindo sobre os ombros, e vestindo… uma camisola leve de cetim, em tons suaves de rosa pastel, cheia de bordados drapeados, flores delicadas… completamente feminina, quase etérea.
Ela percebeu meu olhar e franziu a sobrancelha, divertida
— O que foi? Tá me olhando com essa cara por quê?
Me ajeitei na cama, sem conseguir disfarçar o sorriso.
— Não é nada… é só que… nunca imaginei que a gótica trevosa fosse dormir… de rosa.
Eu soltei uma cartada desafiadora para implicar:
— Pelo menos a calcinha é preta, né? — falei com uma malícia debochada, sentando na cama para puxar conversa enquanto ela terminava de secar o cabelo na toalha.
Mas logo riu de novo, ergueu a barra da camisola e me mostrou.
Era uma calcinha comum, de algodão… e o melhor: com um desenho infantil de uma capivara fofa bem no meio.
Eu desabei na risada:
— Ah não… essa gótica é poser demais, meu Deus! — falei, cobrindo o rosto com as mãos, como se não conseguisse acreditar naquela cena.
Ela franziu o cenho, fazendo aquela cara de falsa indignação, e rebateu com um tom exageradamente ofendido.
— Desculpa se eu não sou fiel ao padrão de moda que vocês julgaram pertencer ao meu estereótipo!
Não resisti e arremessei um travesseiro nela, rindo ainda mais.
— Deixa de ser idiota!
Ela aparou o travesseiro no ar com uma habilidade surpreendente, jogou de volta de qualquer jeito, e veio sentar ao meu lado na cama.
— E aí… quando tem festa aqui? — perguntou, ajeitando uma mecha do cabelo ainda úmido, com aquele ar curioso de quem já está querendo saber como funcionam as coisas ali.
Dei um meio sorriso, me encostando na cabeceira
— Humm… aqui? A gente não faz festas, não… dá muito trabalho, sempre dá algum problema e, além de tudo, sobra uma sujeira enorme pra limpar.
Ela fez uma cara de desapontada, mas já rindo.
— Então… — completei, levantando o olhar e soltando meio de canto — festas… só na república dos outros.
Ela riu, mexendo de leve na barra da camisola, e então soltou, meio casual
— E homens… vocês trazem pra cá?
Na hora, olhei pra ela com aquela cara de “te peguei, safada!”, arqueando uma sobrancelha, rindo sem dizer nada por uns segundos.
— Então… — comecei, esticando a resposta só pra provocar — a gente vive ocupada com a faculdade, não tem muito tempo pra relacionamento… e, aqui, é complicado. Todo mundo divide quarto. A gente evita trazer estranhos pra não deixar ninguém desconfortável.
Ela assentiu, compreendendo, mas eu não perdi a chance de emendar, com um meio sorriso.
— Agora pensa, imagina tu saindo do quarto de madrugada e dando de cara com um cara que tu nunca viu na vida… andando só de cueca pelo corredor.
Ela soltou uma risadinha, mas o olhar ainda era curioso… e então, como quem pisa num terreno mais delicado, perguntou:
— Entendi… mas… você já trouxe alguém pra cá?
Havia alguma coisa na voz dela, um tom incerto, meio sondando, meio provocando… e eu percebi.
Dei de ombros, tranquila, mas olhando bem nos olhos dela
— Digamos que… homens não são muito lá minha praia.
Ela riu, jogando o corpo levemente pra trás, apoiando as mãos na cama, como se tivesse acabado de descobrir um segredo meu, divertida, satisfeita…
Ficou um segundo em silêncio, parecendo pensar em alguma coisa… e então perguntei, com um ar entre a brincadeira e a provocação
— O que foi? Ficou com medo de eu te agarrar de noite… ou ficou com vergonha de ter me mostrado a calcinha?
Ela soltou uma risada, balançando a cabeça negativamente.
— Deixa de ser boba, garota… nada a ver, nem pensei nisso!
Ela inclinou um pouco o corpo na minha direção, mordeu de leve o lábio e, com aquela cara mais safada do mundo, completou.
— Só que… se eu vier te pegar de noite… — fez uma pausa, o olhar cravado no meu — vai ter problemas… porque eu gosto muito.
Nossos olhares se cruzaram de novo, e eu simplesmente não conseguia mais desviar… a sua boca sorria, suave, convidativa, e parecia impossível não reagir — mas eu fiquei ali, paralisada, mordendo levemente os lábios, completamente presa ao charme dela.
Foi então que ela se inclinou.
De forma lenta, como quem explora um caminho desconhecido, avançou centímetro por centímetro, mantendo o olhar cravado no meu até o último segundo, até fechar os olhos e, com uma delicadeza surpreendente, encostar os lábios no meu rosto.
Eu prendi a respiração. Um arrepio correu inteiro pela minha pele, misturando um calafrio de felicidade e uma alegria tão pura, tão inesperada, que parecia difícil até de nomear.
E então ela me beijou.
Sem pressa, devagar, os lábios dela encontraram os meus com uma segurança afetuosa, sem força, sem urgência — só aquela entrega silenciosa, quente, íntima.
O toque era macio, úmido, e a maneira como ela pressionou, puxando de leve meu lábio inferior, quase como uma provocação sutil, fez minha pele arrepiar toda. Minha mão, sem que eu percebesse, apertou de leve o lençol, procurando algum ponto de apoio, enquanto ela aprofundava o beijo, inclinando ainda mais o corpo, aproximando, aquecendo, diminuindo o espaço entre nós.
Senti a ponta dos dedos dela roçarem minha cintura, subirem até a minha nuca, guiando suavemente meu rosto, prendendo, como quem diz sem palavras: “fica!”.
E eu fiquei.
Me entreguei ao beijo, ao calor, ao arrepio, à respiração pesada, ao coração disparado… ao modo como nossas bocas se encaixavam, explorando uma à outra com doçura, mas também com aquela tensão invisível, como uma linha esticada que a qualquer momento pode arrebentar e se transformar em algo maior.
Quando ela enfim se afastou — só o suficiente para que nossas respirações se descolassem —, manteve os olhos fechados por um segundo, os lábios entreabertos… e depois me olhou, como quem quer confirmar se eu tinha entendido bem o que aquilo significava.
E eu… eu só consegui devolver o olhar, com aquele sorriso bobo e o corpo inteiro ainda em suspensão, como se tivesse acabado de ser puxada para um outro mundo, do qual, sinceramente, não queria sair.
— Posso trancar a porta? — perguntou, lançando um olhar malicioso para a porta, com aquela cara de quem tem as intenções mais safadas do mundo.
Eu ri, sem conseguir conter, e me levantei com urgência, atropelando tudo que estava no caminho — a cadeira, o carregador no chão, a mochila aberta —, só para ir até a porta e passar o trinco, sentindo meu coração acelerar numa mistura de excitação e nervosismo.
Deitada na cama, ela ria da minha pressa exagerada, os olhos brilhando de quem sabe exatamente o que ia acontecer, percebendo que eu estava encenando, exagerando, entrando completamente no jogo. E, para me acompanhar, sem perder o tom provocador, ela puxou a barra da camisola… e num único movimento, deixou a peça escorregar inteira para fora do corpo.
Ali, sentada na cama, ficou só de calcinha, os seios balançando levemente, livres, enquanto ela fazia caras e bocas, se exibindo com aquela confiança insolente, debochada e irresistível.
— E aí, gatinha… — soltou, com a voz mais safada do mundo, inclinando levemente o corpo pra frente, deixando os seios ainda mais evidentes — já comeu uma gótica rabuda?