1470 palavras
7 minutos
Um jeito de sair do buraco

Capítulo 1#

Minha melhor amiga estava me caçando como uma louca, desesperada. No celular, uma sequência de chamadas perdidas e uma mensagem inconfundível dela:

“Ô, sua doida! Atende logo! Arrumei um jeito de te tirar da merda!”

E olha… que merda eu estava! Desempregada, sobrevivendo de bicos dando aulas particulares e torcendo para que meus alunos pagassem em dia. O problema? Isso nunca cobria nem o básico. Minha casa vivia mergulhada na penumbra — não por escolha, mas porque a companhia de luz adorava me lembrar, mês sim, mês não, que as contas estavam atrasadas.

Na faculdade, eu já era figurinha carimbada na secretaria a cada três meses, mendigando acordos para não ser expulsa. A ideia de me formar parecia cada vez mais distante, já que eu mal conseguia bancar os materiais, quem dirá os estágios obrigatórios.

Respondi assim que vi a mensagem. Ela queria vir até minha casa contar sobre um esquema que tinha lhe rendido um bom dinheiro. Eu já conhecia esses golpes milagrosos que prometiam dinheiro fácil, e, para ser honesta, sentia pena da minha amiga. May nunca foi muito esperta para essas coisas. O que me surpreendia, na verdade, era o fato de ela realmente ter ganhado alguma coisa.

Mesmo sem interesse, aceitei recebê-la. No mínimo, teria um pouco de companhia.

E então, ela veio.

Chegou feito um furacão, me cumprimentando e jogando as bolsas no sofá. May era assim: um poço de energia, principalmente para fazer besteira. Parecia que tinha um talento especial para se meter em encrenca, e o pior? Sempre contava depois como se fosse a coisa mais divertida do mundo.

— Mulher, olha esse cara! — disse, os dedos ágeis deslizando pelo celular enquanto me mostrava um perfil no Instagram.

O homem era um típico “boy ostentação”. Rico, cheio de fotos esquiando com gente bonita, cercado de mulheres deslumbrantes e sempre posando ao lado de carros caríssimos. E meu Deus… como ele era gato! Só de olhar aquelas fotos, senti um calorzinho percorrer meu corpo.

— Tá, amiga! Casar com um milionário ainda está nos meus planos, mas acho que esse daí não vai me querer. Era esse o esquema?

— Não surta, tá bom? Senta aí… — Ela estava ainda mais agitada que o normal, e isso me preocupava.

Eu me sentei. Pelo preâmbulo, já sabia que vinha bomba.

E ela continuou:

— Sabe aquele carinha? Acredite ou não… eu peguei ele!

— Não… a… cre… di… tooooooo! — Dei um berro tão alto que até eu me assustei. — Me conta como foi isso! Onde você achou esse deus grego?

— Então… aí é que tá, sei que você vai me chamar de maluca.

— Sim, você é maluca. Agora fala logo!

Ela riu antes de continuar:

— Eu estava trabalhando em um evento na casa dele. Ele passou por mim, foi super simpático, pediu meu telefone e disse que tinha um trabalho para mim.

— Até aí tudo bem. Mas que tipo de trabalho?

— De acompanhante, amiga!

— Acompanhante o quê? Do tipo puta? — Fiquei surpresa.

— Não, nada disso! Ele só queria que eu o acompanhasse numa inauguração de um negócio dele. Eu ficaria ao lado dele, só pra fazer presença, saca? Tipo bancando um playboy. Tinha eu e mais umas três meninas. A grana era boa e, olha, nada de sexo envolvido. Então aceitei.

— Entendi… mas pula pra parte que interessa! Você deu pra ele ou não? Me conta os detalhes!

— Eu não dei, garota! Não que eu não quisesse… — Ela riu, se abanando como se precisasse se refrescar só de lembrar.

— Como assim? Pra que ele queria a companhia de quatro mulheres? Só pra se exibir?

— Sei lá, deve ser! Mas o que eu quero contar vem depois. Quando o evento acabou, ele dispensou as meninas e me chamou pra esticar na casa dele. Eu nem era a mais bonita das quatro, mas ele me escolheu! Pensei que tinha me dado bem, mas aí a coisa estranha começou.

— Como assim estranha? Ele fez alguma coisa com você?

— Não, cala a boca e escuta, porra!

— Tá, fala logo!

— Ele me chamou pra casa dele, como eu disse. Cheguei lá já pronta pra ser agarrada. Eu já tava batendo palminha mentalmente porque ia dar praquele gostoso! Mas aí ele pegou um vinho, me serviu, sentamos na sala e, pasme: só conversamos!

— Como assim só conversaram? Ele te chamou pra casa dele só pra conversar?

— Sim. E você não imagina as coisas que ele me confidenciou!

— Conta logo, mulher! — Eu já tava ficando ansiosa com tanta enrolação.

— Então… a gente começou a falar de sexo. Foi muito natural, o assunto simplesmente surgiu. Entre algumas conversas picantes, ele me disse que tinha um fetiche… queria contratar alguém para fazer certos serviços, tipo um roleplay. Uma pegada meio BDSM, mas sem tapas, sem roupa de vinil, nada dessas coisas exageradas.

— Meu Deus… e como o meu nome entrou nessa história? — Assim que ela falou, eu saquei na hora onde isso ia dar. E comecei a ficar ligeiramente puta com ela.

— Então… ele disse que não queria contratar uma puta, porque não gosta. O fetiche dele é corromper a pessoa.

— Claro, lindo, rico e gostoso… fácil.

— Pois é! Aí eu falei que conhecia gente que se corromperia muito fácil por ele.

— Garota, você é maluca? Você sabe que isso tem nome no código penal, né? E tu foi dar o meu nome?

May fez uma pausa preocupante na falam respirou fundo e falou:

— Olha, vou te mostrar uma coisa. Pega o celular.

Ela digitava algo no telefone enquanto falava. Poucos segundos depois, meu celular apitou.

— Você me mandou dinheiro?

Olhei a notificação do banco e senti meu coração errar o compasso. Era um aluguel inteiro. E ainda sobrava.

— Maluca, que dinheiro é esse?

— Então… ele disse que isso é só pra você ouvir a proposta dele. Se não quiser, tudo bem. O dinheiro é seu, não precisa devolver.

— Cara, isso tá me soando muito errado… — A apreensão tomou conta de mim.

Eu já tinha ouvido falar de caras ricos com fetiches estranhos, bancando mulheres em troca de favores. Mas, pelo que eu sabia, esses favores eram sempre sexuais. E, embora ele fosse lindo de morrer, prostituição ainda não estava nos meus planos.

— Sinceramente, eu não sei o que te dizer. Tu só pode ser maluca. E agora? Vou te devolver essa grana e você manda de volta pra ele.

Isso era a minha dignidade falando. Mas, no fundo, eu torcia para que ela insistisse em não querer a devolução. Eu estava completamente fodida esse mês.

— Amiga, se você me devolver, vai ficar pra mim. E eu sei que você está precisando muito. Não faz sentido! E, na boa, você daria de graça pra ele mesmo! — Ela ria, como se vender meu corpo fosse realmente uma hipótese viável.

— Cara, eu não sou puta profissional, não.

— E se fosse, ele já disse que não ia querer. Amiga, vai lá! Toma o telefone dele, manda uma mensagem dizendo que eu te mandei entrar em contato. Ele já sabe seu nome e tá te esperando.

A conversa continuou com ela tentando me convencer a pelo menos ouvir a proposta. Eu sabia que a reação óbvia seria ficar puta com aquilo, mas na real? Eu estava tão fodida que cogitava a ideia como uma luz no fim do túnel.

O problema não era só aceitar ou não. Eu tinha medo. Medo de onde isso poderia me levar, medo pela minha própria segurança. Ele poderia me estuprar. Poderia arrancar um rim e ninguém jamais saberia. Era um risco.

Ela percebeu que o clima ficou estranho e foi embora mais cedo. Nem ela nem eu sabíamos exatamente o que estava passando na minha cabeça. Eu tentava formular um pensamento racional sobre aquilo, mas não conseguia. Até que decidi ir com calma. Mandar uma mensagem e conversar por telefone não ia me matar.

E então, eu mandei.

“Oi, quem fala aqui é Luana, tudo bem? A May que trabalhou para o senhor disse que haveria um trabalho para mim. Poderia me passar mais detalhes?”

A resposta não demorou a chegar.

“Luana, amanhã compareça no endereço abaixo para assinar um contrato de confidencialidade. Sua amiga mencionou que você é aluna de direito, então acredito que não terá problemas com esse tipo de documento. Após assinado, nos encontraremos para mais detalhes. Informe ao advogado suas despesas de deslocamento para que sejam reembolsadas. Boa noite.”

— Um contrato de confidencialidade? — Agora sim, eu estava curiosa.

O endereço era em um prédio comercial na área mais nobre da cidade. Só pessoas com muito dinheiro tinham escritórios lá. Meu sonho era conseguir um estágio em um daqueles lugares.

Será que ele poderia me arrumar um estágio se eu pedisse?

Eu estava gostando demais daquela história, e isso me dava medo.

Nervosa e eufórica, passei a noite inteira sem dormir. E foi assim que eu me peguei fazendo algo que jamais imaginei: stalkeando todas as redes sociais dele.

Eu queria entender quem era esse homem.

E, no fundo, já estava desejando-o.

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