Capítulo 3
A noite havia sido longa para mim. Pensamentos intrusivos invadiram meus sonhos, me fazendo sonhar acordada de um jeito desconfortável. Meu cérebro parecia determinado a solucionar aquela questão por conta própria, projetando possibilidades que eu preferia não encarar ainda.
Acordei um bagaço. Sentei na cama e fiquei fitando o nada, esperando que uma providência divina me desse alguma direção. Eu poderia simplesmente deitar de novo e dormir até o meio-dia se quisesse — afinal, estava desempregada. Peguei o celular para ver se havia alguma mensagem dele. Nada.
Meus peitos doíam. Eu tinha dormido de novo com o braço embaixo deles. Alonguei-me preguiçosamente e senti o bafo de bueiro aberto. “Preciso escovar os dentes urgentemente.”
No banheiro, o espelho não refletia meu rosto — pela manhã, a luz do sol não batia naquele lado do apartamento, e a lâmpada estava queimada desde o mês passado. Me sentei para o xixi matinal, segurando a escova de dentes com pasta já enterrada na boca. Me limpei e, como sempre, olhei o papel para garantir que estava tudo certo.
“Meu Deus, pareço um urso. Olha a porra dessa boceta, como está peluda!”
Me inspecionei, imaginando o trabalho que daria tirar tudo aquilo na gilete. Fazia uns dois ou três meses que eu não me preparava com o intuito de dar para alguém. Quando sabia que ia transar, caprichava no corte, deixava tudo mais aparado. Os homens geralmente preferiam que eu raspasse tudo, mas eu sempre odiei esse visual. Era mais uma área para ficar empolada, e a coceira insuportável quando os pelos cresciam de volta me irritava. Minha pele ali era muito clarinha, qualquer inflamação deixava marcas vermelhas e até arroxeadas. No dia a dia, eu aparava com a maquininha, mantendo o mínimo possível na parte de baixo e um pouco mais na frente. Me sentia mais feminina assim.
Peguei o celular e mandei uma mensagem para minha melhor amiga antes de entrar no chuveiro.
“Amiga, eu decidi ir me encontrar com ele! Você acha melhor eu raspar tudo ou ir igual a mulher barbada?”
A resposta veio de imediato.
“Eita, piranha! Sabia que você não ia resistir! Sei lá, amiga, esse cara pode ter qualquer mulher só estalando os dedos, e essas putinhas eu tenho certeza que não devem ter um pelo no corpo sequer, fazem isso para parecerem ninfetinhas. Eu acho melhor você deixar do jeito mais confortável para você, faz algo que seja a sua cara! Ele escolheu você afinal, se ele pedir para você tirar, você tira, sei lá!”
Fazia sentido. Eu tinha algum dinheiro sobrando e poderia marcar uma depilação. Sempre odiei fazer isso no dia D — a área ficava muito irritada. Seria melhor fazer no dia anterior, assim teria tempo de passar cremes e estar pronta para uso, sem problemas. Mas, para agendar, eu precisava saber o dia e o horário certos.
Ainda sentada no vaso, toda descabelada, com a escova de dente na boca e parecendo uma louca, percebi que aquele era o momento. A decisão que eu tomaria ali mudaria minha vida. Eu estava criando coragem para enviar a mensagem de confirmação. Se enviasse, estaria aceitando algo extremamente delicado, algo que poderia marcar minha história para sempre. Passo a passo, comecei a refazer mentalmente os caminhos que me trouxeram até ali. Tentei lembrar de cada detalhe, por menor que fosse, para garantir que nenhuma ponta solta pudesse me colocar em uma enrascada. Respirei fundo, meus dedos ficaram trêmulos, fechei todos os aplicativos como se fosse um ritual e mandei a seguinte mensagem:
“Olá, eu gostaria de saber quando e onde podemos nos encontrar para o trabalho.”
Para minha angústia, a resposta não vinha. Enfim terminei de escovar os dentes, tomei um banho rápido e me enchi de cremes. Tentava me manter ocupada para não ficar muito ansiosa com a resposta.
“Esse cara é um ricaço, nem deve estar acordado antes do meio-dia. Eu deveria ter enviado a mensagem de tarde!”
Eu não tinha muitas coisas para fazer como sempre. Meu apartamento era uma cabeça de porco minúscula, e eu o mantinha sempre limpo. Pensei em fazer um bolinho para matar o tempo.
“Será que ele gosta de bolo? Eu poderia levar um pedaço para ele.”
Todos os meus pensamentos, de alguma forma, se direcionavam a ele.
“Eu bem que podia tocar uma siririca para relaxar!”
Me masturbar me acalmava. Fui até a sala e verifiquei se a porta da frente estava trancada. Voltei para o quarto, fechei as cortinas e passei a chave na porta. Eu não gozava de porta aberta de jeito nenhum, sempre tinha que estar tudo trancado para conseguir relaxar. Era como se fosse um ritual que eu tinha que executar!
Me sentei na cama, tirei minha calcinha, molhei meus dedos e comecei como uma máquina. Travei o clitóris entre o indicador e o médio, fazendo movimentos circulares. De vez em quando, ia na caverninha buscar lubrificação. Eu não precisava pensar em nada para me masturbar, não precisava nem mesmo estar excitada; era algo puramente mecânico para mim. Só conseguia ficar excitada de fato depois de gozar me masturbando, eu sou uma pessoa toda errada.
Durante toda a minha vida, usei a masturbação como uma forma de terapia. Estivesse estressada, magoada, irritada, com fome ou com frio, não importava o problema — eu me tocava para aliviar.
O orgasmo veio rápido, mas foi daqueles meio artificiais — um alívio fugaz, sem a força arrebatadora que tira o chão. Sentei frustrada, olhando para meus dedos molhados. Fiquei pensativa sobre os motivos que levam as pessoas a experimentarem suas próprias secreções.
Curiosa, senti o cheiro e toquei a ponta da língua. Já havia me experimentado antes — se você é mulher, meio que você é obrigada a isso — mas nunca entendi a fascinação que algumas pessoas têm por provar suas próprias secreções. Meu gosto não era ruim, mas ainda assim… por que tem gente que parece gostar de se lamber?
Eu estava perdida divagando quando o telefone apitou — era uma mensagem dele dizendo:
“Você venha hoje à noite.”
Hoje… “Será que eu devo ir sem me preparar? Talvez ele só queira conversar mesmo…”
Eu estava meio anestesiada, perdida em pensamentos, deitada na cama, ainda sem calcinha, e refletindo.
“Será que as prostitutas antes de trabalhar passam o dia assim como eu agora?”
Eu tinha aceitado me vender. Ele era lindo, rico e a oportunidade era boa. Meu medo era somente o que ele poderia pedir para eu fazer e se eu conseguiria atender. Não que eu seja ruim de cama, mas sou uma pessoa bem normal, nunca fiz peripécias como nos filmes.
Por mais engraçado que fosse, eu não tinha medo de ele me bater. Meu verdadeiro medo era que ele tentasse me comer à força por trás. Minhas últimas tentativas foram muito sofridas. Meu último parceiro tentou, ignorando meus gritos mandando parar, e continuou forçando enquanto dizia para eu aguentar mais um pouquinho. Nunca mais quis vê-lo.
O resto do dia foi um borrão. Minha rotina parecia vazia, e eu me sentia completamente morta por dentro, agindo no automático.
Preparei minha roupa cuidadosamente, como se estivesse me planejando para um encontro corriqueiro. Tentei uma ou duas maneiras de prender os cabelos, escolhi a roupa de baixo, embora não tivesse nada decente para usar, e fiz uma maquiagem básica. Não sabia se ele gostaria de sair para algum lugar e não queria estar vestida de forma errada.
Acabei adormecendo e só despertei na hora de me vestir.