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O primeiro dia de trabalho

Capítulo 4#

Quando terminei de me arrumar, o telefone vibrou com um aviso: um carro viria me buscar em vinte minutos. Já estava pronta. Sem saber exatamente o que esperar, optei por um vestido florido que parecia casual, mas apresentável. Deixei os cabelos soltos e fiz uma maquiagem leve. Peguei um casaquinho para o frio e, na bolsa, discretamente levei algumas camisinhas — achei prudente ter comigo.

Na portaria, um carro me aguardava. Era um veículo importado, visivelmente caro demais para a minha realidade. Ao lado dele, um motorista uniformizado me olhou com um sorriso gentil.

— Dona Luana? — perguntou ele, educadamente.

— Oi, sou eu!

— Vim buscar a senhora.

Entrei no carro, sentindo um misto de curiosidade e desconforto. Enquanto ele dirigia, tentava puxar assunto, mantendo a conversa cordial. Mas, dentro de mim, uma avalanche de pensamentos me esmagava. Quantas mulheres ele já teria buscado para o “senhor” dele? Uma vergonha pesada caiu sobre mim, como se estivesse completamente nua e suja.

Meu olhar se perdia na janela enquanto eu tentava me agarrar a qualquer força que justificasse minha escolha. Fiz mentalmente uma lista de coisas que poderia comprar com o dinheiro que receberia. Tinha até calculado um número exato de programas para atingir meus objetivos. O valor que ele me pagaria era alto, quase surreal. Dois encontros bastariam para cobrir um aluguel inteiro, muito mais do que os valores que encontrei na internet, oferecidos por mulheres lindas, muito mais do que eu me considerava.

Chegamos a um condomínio luxuoso, num bairro nobre da cidade. As casas eram impressionantes, com pé-direito altíssimo e, na maioria, três andares. O carro parou suavemente diante de uma residência imponente. Havia um recuo elegante onde estacionamos, a entrada principal quase me intimidando.

Olhei ao redor, maravilhada e deslocada, como uma forasteira que não pertencia àquele mundo. Tudo era grandioso, reluzente e transbordava sofisticação. Mármore e madeira nobre compunham o cenário, um equilíbrio perfeito entre o clássico e o moderno.

Meu coração disparava. Aquele lugar resumia o que o dinheiro podia comprar. E aquele homem, com todo o poder e riqueza, estava adquirindo não apenas meu corpo, mas uma parte da minha dignidade. Consumida pela necessidade, eu fingia aceitar aquilo de bom grado.

— Senhora, por aqui — a voz do motorista me arrancou do transe.

Segui-o até o interior da casa, que era ainda mais impressionante do que o exterior. A iluminação suave criava um clima aconchegante, mas levemente intimidador pela imponência. Parecia que cada detalhe ali havia sido meticulosamente planejado para impressionar. E ali estava eu, caminhando para dentro de uma realidade que não sabia se teria forças para enfrentar.

Dentro daquela sala imensa, me sentei no sofá do primeiro ambiente. O motorista fez um gesto indicando que eu aguardasse e desapareceu por uma das muitas portas da casa. O silêncio que se seguiu era quase palpável, quebrado apenas pela leve batida do meu coração acelerado.

A espera não durou mais que alguns minutos, mas pareceu uma eternidade. De repente, uma voz suave e melodiosa ecoou de algum lugar acima de mim.

— Luana? Tudo bem?

Levantei os olhos, procurando de onde vinha a voz. Era ele. Aquele homem lindo estava parado em um passadiço no andar superior. Vestia roupas sociais, como se tivesse acabado de voltar do trabalho. A gravata frouxa no pescoço e as mangas da camisa dobradas davam a ele um ar casualmente elegante. Em uma das mãos, segurava um copo com uma bebida.

Naquele momento, gelei. Meu corpo inteiro tremia, e uma pergunta ecoava em minha mente: : “Será que eu tenho que bancar a gostosa?” Meu rosto devia estar estampado com uma expressão de dor mal disfarçada, enquanto minhas mãos suavam tanto que pareciam escorregadias.

— Suba aqui, por gentileza.

Sua voz firme soou como uma ordem, a primeira de muitas, imaginei.

Levantei-me, tentando forçar alguma naturalidade em meus movimentos. Enquanto subia a escada, sentia o peso de seu olhar, como se ele analisasse cada detalhe meu. Cada degrau que eu vencia parecia uma eternidade, um teste para o qual eu não me sentia pronta.

Evitei olhá-lo, mantendo meus olhos fixos no chão. Quando finalmente cheguei ao segundo andar, ele se aproximou calmamente, como se tivesse todo o tempo do mundo. Sua presença era tão marcante que fazia o ar ao meu redor parecer pesado.

— Bem-vinda, Luana.

Ele estendeu a mão para me cumprimentar. Senti minha voz presa na garganta enquanto nossos olhares finalmente se cruzavam. Eu sabia que aquele momento marcava o início de algo que mudaria completamente minha vida.

Ele tocou levemente meu queixo, como se estivesse avaliando uma compra. Talvez fosse apenas um gesto gentil, mas, naquele momento, a tensão me fez interpretar de outra forma. Meu coração disparava, e a vontade de sair correndo dali era quase irresistível.

— Entre aqui, vamos conversar um pouco.

Sua voz cortou o silêncio, firme, mas sem ser ríspida. Apenas o segui, sem contestar.

Ele abriu uma porta próxima, e entramos em um escritório. O ambiente era decorado com prateleiras repletas de livros de capa dura, e o cheiro de tabaco fino impregnava o ar, conferindo um ar austero ao lugar. Ele apontou para uma poltrona de couro, e eu me sentei, nervosa, tentando parecer tranquila.

— Vou direto ao assunto. Você sabe o que eu desejo de você?

Ele disparou a pergunta sem rodeios, com um tom sério que, de alguma forma, o tornava ainda mais fascinante. A resposta parecia óbvia, mas colocá-la em palavras parecia impossível. Sabia que tinha sido contratada para favores sexuais, mas temia dizer algo que soasse vulgar ou inadequado, além da vergonha que me sufocava.

— Sexo.

A palavra saiu gaguejada, quase inaudível, num tom baixo e inseguro.

Ele arqueou uma sobrancelha, inclinando-se levemente para frente, como se quisesse que eu refletisse mais.

— Eu posso pagar qualquer pessoa que desejar para me atender dessa forma. Tem certeza de que é isso que eu quero?

Sua voz carregava um tom enigmático, deixando a conversa ainda mais desconcertante.

Minha mente deu um nó. Por um breve instante, pensei que talvez ele estivesse me contratando para algo completamente diferente, algo mais real, mais honesto. Uma fagulha de esperança acendeu, apenas para ser rapidamente apagada pela vergonha avassaladora da possibilidade de estar interpretando tudo errado.

— Não faço ideia.

Murmurei, minha voz quase sumindo.

Dentro de mim, preferia morrer a encarar a realidade que eu já temia desde o início. A ideia de estar ali, reduzida à minha escolha mais humilhante, fazia com que minha mente lutasse entre o orgulho ferido e a resignação.

— Eu quero sua total obediência.

Ele não sorriu dessa vez.

— Você apenas me dirá “sim” para tudo o que eu ordenar.

A sala pareceu se fechar ao meu redor. Meu destino já estava selado.

— Eu quero sua total obediência. Você só vai me dizer “sim” para tudo o que eu ordenar. Se alguma vez eu perguntar algo que não lhe agrade, diga apenas: “Não, mas ficaria feliz em atender seus desejos, meu senhor”. E, quando não quiser mais me obedecer, levante-se em silêncio e vá embora. Haverá sempre um carro à porta para levá-la onde desejar. Você tem dúvidas, Luana?

— Muitas, mas não sei por onde começar — minha voz saiu mais firme do que eu esperava. E, no fundo, uma centelha de desafio começou a surgir. — Eu não entendo. Você quer que eu faça tudo o que mandar, mas que tipo de coisas seriam essas? — Ao final da frase, senti meu rosto queimando de vergonha.

Ele me encarou com calma, o olhar indecifrável.

— Você é uma prostituta? — perguntou serenamente, como se já soubesse a resposta.

— Claro que não! — respondi, quase ofendida, mesmo sabendo que, tecnicamente, eu era agora.

— Você vai descobrir conforme a minha vontade — disse ele, de forma simples, como se fosse a resposta mais óbvia do mundo.

— Podemos começar?

— Tudo bem por mim… — murmurei. As palavras saíram fracas, quase inaudíveis.

Ele me interrompeu, firme:

— Não. A partir de agora, você responderá: “Sim, senhor”. Da forma como desejar.

Engoli seco, sentindo o peso das palavras. Havia aceitado estar ali, vendido meu corpo, e agora não havia como voltar atrás.

— Sim, meu senhor, da forma como desejar.

— Venha até mim, dispa-se por completo e mantenha os olhos baixos.

A ordem me atingiu como um choque. Eu sabia que ele esperava algo de mim, mas, na minha mente, havia a fantasia de algum tipo de gentileza, de carinho que tornasse aquilo mais suportável. No entanto, ali, diante daquela demanda tão crua, me senti desprotegida, vulnerável. Olhei instintivamente para a porta, contemplando a possibilidade de fugir.

Seu olhar fixo permanecia inabalável, frio e analítico. Ele não demonstrava pressa nem impaciência, mas também não oferecia nenhum conforto. Mesmo vestida, eu já me sentia completamente nua diante dele. Meu corpo inteiro tremia e, sem perceber, mordia os lábios para conter as lágrimas que ameaçavam escapar.

Conforme os segundos se arrastavam, o peso da minha escolha parecia maior. Respirei fundo, tentando reunir coragem, e comecei. Primeiro, deslizei os braços pelas alças do vestido, sentindo o tecido escorregar pelo meu corpo. Com movimentos hesitantes, girei o vestido para afrouxar o fecho e o deixei cair aos meus pés. Abaixei-me para pegá-lo, dobrando-o com cuidado antes de colocá-lo sobre a poltrona próxima.

Ainda restavam minha calcinha e as sandálias. Ele não desviava o olhar, mas parecia não notar meus seios expostos. Sentei-me para desafivelar as sandálias, retirando-as, e então deslizei a calcinha de algodão pelo corpo, até que ela também estivesse no chão.

Agora, estava completamente nua, de pé diante dele. Minhas mãos cobriam, quase por instinto, partes do meu corpo, tentando preservar o que restava de dignidade. Forçando um sorriso, tentei parecer confiante, mas o que saiu foi um riso fraco, sem graça.

Ele continuava a me observar, impassível, como se ainda aguardasse algo de mim.

— Você ainda tem muito o que aprender. Primeiro: jamais me olhe nos olhos, a menos que eu ordene. Segundo: nunca se cubra. Espero que sua servidão se torne algo natural para você.

Suas palavras, firmes e frias, reverberaram em meu interior. Eu sentia, mais do que nunca, o peso do que havia aceitado. Não sabia como reagir e fiquei ali, imóvel, enfrentando a imensidão do que me aguardava. Minhas mãos tremiam, e a necessidade de desviar o olhar de seus olhos se tornou quase insuportável. Um sentimento profundo de vulnerabilidade e solidão tomou conta de mim, algo que nunca havia experimentado. Sentia vergonha, uma sensação de estar imunda, embora não soubesse como lidar com isso.

De olhos baixos, eu não podia ver sua expressão, mas os detalhes ao meu redor eram claros: seus sapatos caros, a bainha impecável de sua calça. O frio me fazia perceber, em cada parte do meu corpo exposto, a crueza da situação. Minha pele estava eriçada, e meus braços tremiam, tentando, sem sucesso, permanecer ao lado do corpo.

— Você tem um belo corpo. Com ele, aprenderá a me entreter. Mas antes, é necessário compreender a verdadeira beleza que ele possui.

Mal conseguia ouvir suas palavras, pois meus pensamentos estavam em um turbilhão. Eu queria entender por que ele não me tomava logo, me mandava embora. Em nome de Deus, homem! Me coma logo e me mande embora daqui! E, ao mesmo tempo, algo em minhas emoções, uma dor silenciosa, fazia com que lágrimas escorressem dos meus olhos.

Minha mente viajou por um instante para longe dali, e me lembrei de um poeminha que fiz na adolescência, para um amor não correspondido:

Ah! Borboletinha azul,
Que bate asas dentro de mim,
Ao te ver, um voo tímido, tão puro e sutil,
No céu do útero, sem querer se conter.
Cores dançam ao teu olhar,
Borboletinha, não quer parar,
Mesmo bobinha, guarda em si,
A doce cócega que me faz amar_._

De um doce lugar, num recanto dos meus pensamentos, fui tragada de volta para o frio penumbral daquela sala. Ele chamava meu nome.

— Luana? Luana! Você está bem?

— Sim, meu senhor! — tentei responder com a voz mais submissa que pude.

— Siga-me! — ele ordenou, virando as costas para mim e ignorando qualquer possibilidade de eu argumentar ou fazer mais algo.

Para onde ele me levaria agora? Meu Deus, me dê forças! Por que não consigo ir embora daqui? O toque leve e salgado das lágrimas sobre meus lábios se misturaram a soluços contidos; eu não queria chorar, queria me mostrar forte.

Me fiz forte em passos trôpegos e o segui, sem conseguir levantar o olhar. Não por seu comando, mas pela vergonha.

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