Capítulo 6
Desde que ele falou pela última vez, o tempo se tornou infinito. O silêncio era absoluto, mortal, preenchendo cada canto da sala. Eu só conseguia saber que ele ainda estava ali porque via seus pés sob a penumbra. Meus braços doíam, e minhas mãos estavam dormentes por estarem erguidas por tanto tempo. O desconforto crescia de maneira insuportável. Além disso, eu estava apertada. Muito apertada. Minha bexiga pulsava, exigindo alívio.
“Será que essa brincadeira tem uma pausa pro xixi?” pensei, a angústia se tornando um peso extra sobre meu corpo já tenso.
— Meu senhor… — murmurei, hesitante, temendo que ele encerrasse tudo ali se eu falasse algo inadequado.
Esperei. Não terminei a frase, aguardando sua permissão.
— Diga, Luana.
A voz dele cortou o silêncio como um chicote.
— Eu… eu preciso fazer xixi. Estou muito apertada.
Não houve resposta. Apenas passos lentos, ecoando no chão de madeira. Cada som parecia mais alto no meio daquele silêncio esmagador. Ele se aproximou, e quando parou, foi perto demais. Muito mais do que eu estava preparada para suportar. O cheiro amadeirado de sua pele e o calor de sua presença me envolveram, invadindo meu espaço, escurecendo ainda mais a vulnerabilidade da minha alma. Meu corpo enrijeceu de imediato. Eu que, por um breve momento, tinha encontrado um resquício de relaxamento, me vi novamente tomada pelo nervosismo.
A pressão em minha bexiga aumentava, e sem perceber, me contraí por dentro numa tentativa desesperada de me segurar.
— Pois faça.
Aquelas duas palavras caíram sobre mim como uma pedra, me esmagando por dentro.
— Senhor…? — Minha voz saiu trêmula, quase sem ar, incapaz de acreditar no que ele estava dizendo.
— Luana, me olho nos olhos…
Ele me prendeu o olhar com os seus.
— Faça agora.
O medo me consumiu inteira. O alívio que eu esperava não veio — ao invés disso, um nó apertou meu estômago, e minha bexiga parecia ainda mais presa pelo terror que escorria pelas minhas veias. Eu queria me soltar, queria simplesmente obedecer, mas meu corpo se recusava a ceder.
Um riso nervoso ameaçou escapar, trêmulo, desesperado. Travei a mandíbula, tentando sufocar qualquer som, mas apenas consegui emitir um gemido fraco. Meu rosto queimava de vergonha, e antes que eu pudesse conter, uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto. Aquilo era humilhante demais.
“Ok, garota, pensa… é só um fetiche, não é? É só xixi. Você já se mijou bêbada no Carnaval, lembra? Isso aqui é diferente? É, claro que é. Mas você precisa soltar essa merda logo antes que piore.”
Minha cabeça travava uma guerra entre o pavor e a necessidade. Eu forcei um resquício de coragem, ordenei ao meu corpo que relaxasse. E, finalmente, consegui.
Uma nascente tímida escapou de dentro de mim, hesitante, como se meu próprio corpo se recusasse a aceitar o que estava acontecendo. O jato encontrou resistência na forma como minhas pernas estavam posicionadas, espalhando-se sem rumo definido, procurando um caminho entre minhas coxas. Eu deixei fluir, sem forçar, sem me apressar, mas cada segundo parecia uma eternidade.
O silêncio dele era absoluto. Ele não desviava o olhar.
Seus olhos estavam cravados nos meus, analisando cada detalhe, como se medisse cada microexpressão, cada tremor involuntário. Eu queria desviar o rosto, queria desaparecer. Mas seu olhar me mantinha fixa no lugar, presa tanto quanto aquelas correntes acima da minha cabeça.
O cheiro começou a subir. A realidade bateu de uma forma avassaladora. Um nó apertou minha garganta, e o nojo veio como uma onda, junto com uma leve ânsia.
— Deite-se onde está.
Minha expressão foi de pura surpresa. Meu corpo não reagiu, minha mente não processou. Fiquei imóvel. Não havia pensamento, apenas um vazio sufocante.
— Luana, esse é o seu treinamento. — A voz dele cortou o silêncio como lâmina fria. — Você terá que aprender que seu corpo não mais lhe pertence. Sua vontade é apenas a minha vontade. Em seu rosto, não deve haver medo. Não deve haver relutância.
Um arrepio subiu minha espinha.
— Sim… como o senhor desejar, meu senhor.
E então, eu deitei. Obedeci sem pensar.
O palco era menor do que eu, e logo meu corpo nu repousava sobre o que restava da minha própria vergonha. O líquido quente impregnava minha pele, meu cabelo, minha dignidade. O asco cresceu em minha garganta, uma náusea silenciosa que eu precisei engolir.
“Que coisinha, que coisinha, que__m tu és?
Não és nada, não és nada, quem tu és?”
A cantiga infantil veio como um sussurro distante, ecoando dentro da minha mente como uma ironia cruel.
“Sou estrelinha que brilha no céu,
Borboletinha de asas de mel…”
A umidade grudava em mim, me enojava. Eu queria me encolher, me esconder dentro de mim mesma.
“Pulo, danço, faço festinha,
Sou o xodó da minha casinha!”
Meu peito arfava em silêncio, meus olhos ardiam, mas eu não choraria. Não podia chorar.
“Sou neném de mamãe, sou neném de papai,
Queridinha do vovô, queridinha da vovó…”
Eu queria sumir.
“Riso solto, abraço apertado,
Todo mundo fica encantado!”
Mas não havia ninguém encantado ali. Apenas ele, me observando. Apenas eu, perdida no que ainda restava de mim.
Talvez fosse hora de desistir.
Mas… se eu cumprisse mais uma diária, só mais uma, eu pagaria um aluguel inteiro.
Só essa e mais uma.
Eu precisava suportar.