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O meu lugar

Capítulo 5#

Meu corpo cruzou o passadiço atrás dele, cada passo ecoando no silêncio pesado do ambiente. A humilhação queimava dentro de mim, mas era um peso que eu mesma havia escolhido carregar. A necessidade me trouxe até ali, e eu me agarrava à ideia de que pegaria o dinheiro e nunca mais voltaria. Essa era a decisão firme na minha cabeça, ou pelo menos eu queria acreditar nisso.

Ele caminhava à minha frente com a tranquilidade de quem tem o controle absoluto da situação. O copo em sua mão girava levemente, o líquido âmbar refletindo a luz suave do corredor. Enquanto caminhávamos, ele apontava os cômodos do andar superior, dizendo algo que eu mal conseguia assimilar. Sua voz soava distante, como se minhas próprias preocupações criassem uma barreira entre nós. Meu corpo estava ali, mas minha mente vagava em um universo paralelo, tentando processar tudo.

— Aqui. Entre. — Sua voz soou firme, puxando-me de volta à realidade.

Ele indicou uma porta aberta, e meu olhar pousou na fechadura eletrônica. Era uma dessas ultra-modernas, sem chaves, acessível apenas por digital, senha ou celular. Um pequeno detalhe que me fez sentir ainda mais presa.

— Eu vou cadastrar um acesso livre a esse ambiente outro dia, vamos ver como se sai hoje.

Assim que pisei no ambiente, a penumbra ao redor engoliu minha visão, mas não por muito tempo. Com um clique discreto, ele acionou um interruptor, e uma luz ambiente revelou o espaço diante de mim.

O choque veio como um soco no estômago. Meu peito se apertou, e um arrepio gelado percorreu minha espinha. O que vi não era apenas um quarto, não era um simples cômodo. Era algo… sexual.

A parede exibia chicotes e cordas dispostas como se fossem parte de uma coleção cara, perfeitamente organizadas. Havia aparelhos cuja função eu não conseguia identificar de imediato, gaiolas robustas, barras de pole dance e uma estrutura de madeira com algemas fixadas. Cada detalhe gritava perversão, desejo e dominação.

Engoli em seco, sentindo o pavor se misturar a uma estranha fascinação. Eu não sabia exatamente o que esperava encontrar, mas com certeza não era aquilo.

— Luana, vou deixar você à vontade para explorar enquanto me preparo. Preferi recebê-la imediatamente a me atrasar. Peço desculpas por isso.

Sua voz era calma, quase casual, como se estivesse me deixando sozinha em uma sala de espera qualquer — mas aquele ambiente estava longe de ser comum. Ele saiu por uma porta lateral, provavelmente conectada a outro cômodo, deixando-me ali, imóvel, presa ao chão pelo choque.

Meus olhos percorreram o espaço, absorvendo cada detalhe como se minha vida dependesse disso. Na parede oposta, quadros de mulheres nuas adornavam a decoração. Embora fossem pinturas a óleo, não tinham um ar antigo. A técnica era moderna, assim como os rostos. “Antigas funcionárias?” A pergunta me atingiu como um golpe súbito. “Será que elas ainda estão vivas?”

Um arrepio subiu pela minha espinha. Tentei gravar cada traço daquelas faces na minha memória, um reflexo irracional de autopreservação. Se algo acontecesse comigo, pelo menos eu teria reconhecido aquelas mulheres antes.

Respirei fundo e comecei a andar pelo cômodo, tentando me acostumar com o ambiente. O desconforto inicial foi, aos poucos, sendo engolido por algo inesperado: curiosidade. Meu olhar caiu sobre uma parede coberta de chicotes de diferentes tamanhos, formatos e materiais.

— Caramba… esse cara vai querer me enfiar a porrada. — Murmurei, sentindo o medo se alojar fundo no meu peito.

Eu era péssima com dor. Sempre fui. Só de pensar, meu corpo já se preparava para a resistência.

Mas para que tantos tipos…

Sem pensar, peguei um dos menores e bati levemente contra minha perna, testando a dor. O impacto foi mais sonoro do que dolorido. Outro, mais robusto, deixou um leve ardor na pele. Franzi a testa. Aquilo não era tão ruim quanto eu imaginava.

Me aproximei de um armário e abri suas portas. Uma verdadeira coleção de brinquedos íntimos se revelou diante de mim: vibradores de todos os tipos, plugues, sugadores… “Uma sex shop inteira escondida aqui dentro.” pensei.

— Poderia levar um desses para casa… — soltei, rindo baixinho, surpresa comigo mesma.

No centro do ambiente, uma cadeira peculiar chamou minha atenção. Articulada, com diversos ajustes, lembrava uma mesa ginecológica — só que muito mais sofisticada. Parecia projetada para garantir conforto em qualquer posição.

Sem perceber, um sorriso escapou dos meus lábios. De alguma forma estranha, aquele lugar me entretinha. E então, o som de passos cruzando a porta estremeceu minha realidade.

A bolha em que eu havia me permitido entrar estourou com brutalidade. O peso da minha situação voltou como uma onda esmagadora, trazendo consigo uma culpa latejante.

“Que diabos eu estava fazendo?”

Eu deveria estar aterrorizada. Eu deveria estar tentando encontrar uma saída. Mas, em vez disso, ali estava eu… me divertindo com tudo aquilo.

O homem retornou, agora vestindo um roupão de seda que pendia de seus ombros com uma elegância quase despretensiosa. O tecido reluzia suavemente sob a iluminação difusa, um detalhe sutil que reafirmava o poder e a riqueza que ele parecia carregar sem esforço. Seus cabelos ainda úmidos indicavam um banho recente, e um perfume amadeirado preencheu o ar, envolvendo o ambiente com um toque quente e masculino.

— Ali. Suba ali.

Sua voz veio firme, enquanto apontava para uma estrutura circular elevada, algo que lembrava um palco — um disco de pouco mais de trinta centímetros de altura no centro do cômodo.

— Esse é o seu lugar.

Engoli seco e me movi até a plataforma, sentindo cada passo meu ecoar pelo ambiente enquanto caminhava. Ele se acomodou em uma poltrona imponente à minha frente, posicionando-se de maneira confortável, como quem se prepara para assistir a um espetáculo. Um controle remoto em sua mão brilhou brevemente sob a luz, e num clique quase silencioso, a iluminação ao meu redor mudou abruptamente.

A sala mergulhou na escuridão, deixando apenas um facho de luz focado sobre mim.

O contraste era avassalador. A escuridão ao redor me tornava ainda mais vulnerável, um alvo isolado sob o brilho frio daquela luz solitária. Acima da minha cabeça, notei as correntes e cordas suspensas, presas a um sistema de contrapesos que lembrava o de um teatro. A utilidade daquilo me escapava, mas a simples presença da estrutura fazia minha respiração pesar.

Minhas mãos vacilaram por um instante, impulsivamente buscando cobertura para o meu corpo nu — um instinto tão enraizado que eu tinha que me lembrar, a cada segundo, da ordem dele.

“Não se cubra.”

A instrução martelava na minha mente enquanto eu lutava contra o reflexo automático de me proteger. Eu já havia passado pelo primeiro impacto de estar nua diante dele, mas ainda assim, a exposição me corroía por dentro.

O mais perturbador?

Apesar do desconforto, apesar do medo, apesar da humilhação, meu corpo parecia ter sua própria vontade. Meu coração batia acelerado, enviando ondas de calor que se espalhavam por cada parte de mim. Minhas pernas pareciam inquietas, não por hesitação, mas por algo mais profundo e inquietante. Uma excitação sutil, inesperada, florescia no meio do caos que dominava minha mente.

— Luana, solte completamente seus cabelos. Entrelaçe os dedos das mãos e coloque-os na nuca.

Sua voz era firme, sem hesitação, como se cada palavra fosse um comando já ensaiado. Eu não o via mais contra a luz, era apenas uma voz, eu me sentia mais sozinha e assustada que antes.

Meus braços se ergueram devagar, e meus dedos deslizaram pelos fios soltos, liberando-os completamente. A sensação foi estranhamente libertadora e, ao mesmo tempo, opressiva. Com as mãos entrelaçadas atrás da cabeça, percebi o que aquela posição representava.

Era rendição. Um gesto silencioso de submissão.

Fiz o que ele mandou, sentindo um calor incômodo percorrer meu peito. Na tentativa de me acalmar, concentrei-me em um pensamento qualquer que tornasse tudo menos avassalador. “Talvez fosse só uma questão de estética.” Meus seios pareciam mais erguidos assim, as curvas mais definidas sob a luz. Talvez fosse isso. Talvez ele simplesmente gostasse de vê-los melhor assim.

A ideia me trouxe um resquício de conforto, ainda que frágil.

— Suas pernas devem estar ligeiramente afastadas — ele continuou, sua voz implacável. — E lembre-se… olhe para baixo. Nunca me olhe nos olhos.

O peso da ordem caiu sobre mim como um lembrete de onde eu estava e do que aquilo significava.

Sem questionar, continuei obedecendo.

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