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O contrato

Capítulo 2#

Coloquei um terninho como toda boa estudante de direito para bancar a advogada, maquiei-me com modéstia e prendi os meus cabelos pretos. Sem meus óculos velhos de guerra de armação grande, eu não conseguiria ler nada. Eu os odiava; eram antigos, e as lentes já não atendiam mais ao meu grau. Minhas amigas diziam que eu ficava linda com eles, que me davam um ar profissional e misterioso. Completa bobagem! A verdade é que eu havia quebrado os meus óculos atuais e não tinha dinheiro para comprar outro.

Peguei um ônibus, mas olhei no celular para ver quanto custaria um Uber. Ele não precisaria saber, e o dinheiro economizado serviria para as compras do meu fim de semana. Dentro da lotação, observei as pessoas e pensei: “Todos aqui estão indo trabalhar honestamente. Será que eu não deveria fazer o mesmo? Que favores eu deveria fazer para esse homem?”. Eu sabia, era prostituição, não poderia ser outra coisa. Eu justificava para mim mesma: mas ele é lindo de morrer, faria até de graça. Ainda assim, eu sabia que trocar favores sexuais por dinheiro era errado para mim.

Eu tentava estabelecer meus limites e estava um tanto quanto certa deles. Em hipótese nenhuma eu faria sexo com ele, de nenhum tipo. Eu poderia sair com ele para lugares, deixaria ele beijar meus pés se quisesse, mas a esquisitice iria parar aí. Eu não sou puta e não venderia a minha dignidade. Esse pensamento me encheu de energia para enfrentar a reunião com o advogado.

Será que ele é um desses caras assexuados ou enrustidos que pagam mulheres para fingir que são homens funcionais? Talvez ele queira me contratar para ser sua namorada de mentira. Se fosse isso, eu poderia negociar mais amplamente!

A ideia não parava de ganhar força na minha cabeça.

Desci duas quadras antes do prédio para evitar olhares curiosos. Atravessei a entrada giratória com a postura confiante de quem frequenta aquele lugar diariamente, mesmo que, por dentro, cada passo parecesse forçado. Queria que me enxergassem como alguém próspera, uma igual entre os profissionais dali. Mas essa segurança desmoronou quando um pensamento inconveniente surgiu: “Quantas mulheres já passaram por aqui para assinar esse mesmo contrato? Será que, ao me verem, vão pensar: ‘Ali está mais uma… Essa é menos gostosinha que as outras_!_”. Minha autoestima, que já não era das mais resistentes, vacilou.

Na recepção, anunciei meu nome. A atendente me entregou um cartão de acesso ao elevador, garantindo que minha chegada já era esperada e que não havia motivo para nervosismo. No elevador, cercada por pessoas impecavelmente vestidas, com rostos serenos e distantes, senti-me deslocada. Eles pareciam intocáveis, como se nunca tivessem enfrentado um dia ruim na vida. Eu estudava incansavelmente para ser como eles, mas ultimamente tudo indicava que essa luta era em vão.

O escritório ocupava um andar inteiro e exalava sofisticação. O contraste entre a madeira nobre e os detalhes metálicos criava um equilíbrio entre o clássico e o moderno. Diante da porta, um homem distinto, aparentando cerca de quarenta anos, vestindo um terno impecável que denunciava seu alto valor, me encarou por um instante antes de dizer:

— Então, você é a senhorita…? Ah! Doutora Luana? Assim que a devo chamar? Seja bem-vinda, por favor entre! — ele talvez soubesse, já me ganhou na: “doutora” !

Eu o segui até sua sala, um espaço amplo, maior que meu apartamento inteiro. Tentava fingir que aquele ambiente de luxo era algo comum para mim, mas, por dentro, a curiosidade me consumia. Meu desejo de perguntar se ele me daria um estágio ali era quase incontrolável.

— Sente-se, por favor! Gostaria de um café? — disse ele, apontando para uma cadeira em uma imensa sala de reuniões, grande o suficiente para acomodar pelo menos vinte pessoas.

— Obrigada, aceitaria uma água, não um café. — A última coisa que eu precisava naquele momento era cafeína me deixando ainda mais pilhada do que já estava.

Ele saiu da sala por alguns instantes e logo voltou com dois grandes envelopes nas mãos.

— Senhora Luana, meu cliente disse que não haveria dificuldades de entendimento quanto ao documento apresentado. Trata-se de um contrato de sigilo, bem simples. Mas, caso tenha dúvidas, pode me perguntar ou consultar um colega de sua preferência.

Ele me entregou um dos envelopes enquanto falava. Dentro, havia um contrato direto e objetivo: eu me comprometia, sob pena de multa, a manter sigilo absoluto sobre qualquer informação privada do cliente. Eram cinco páginas, e eu já tinha visto documentos assim antes. Não havia nenhuma cláusula abusiva ou mal formulada. Sem hesitar, assinei, guardei minha cópia com a assinatura dele e devolvi a outra.

— Tendo assinado isso, senhora, meu cliente apenas me pediu que lhe entregasse este segundo documento. Desconheço seu conteúdo, pois foi selado por ele pessoalmente. Por favor, confira o selo para garantir que não foi violado e assine o recibo de entrega.

Outro contrato? Aquilo despertou minha curiosidade. Será que eu poderia ler ali mesmo?

— O senhor se incomodaria se eu desse uma olhada nesses papéis agora?

— Claro, nossa reunião está encerrada. Fique à vontade para usar o espaço. Qualquer necessidade, chame a secretária pelo telefone, basta apertar o zero. — Ele indicou um aparelho embutido na mesa.

Aguardei até que ele deixasse a sala. Meu coração batia forte enquanto eu abria o envelope.

O documento tinha poucas páginas. A primeira era apenas formalidades jurídicas, mas o conteúdo essencial eu resumiria assim: o contrato estava protegido pelo sigilo que eu acabara de assinar e, por si só, não possuía valor jurídico. Eu seria paga diariamente conforme cumprisse as tarefas estipuladas, mas não havia uma única linha descrevendo quais eram essas tarefas. O contrato estabelecia um único valor, como se fosse uma espécie de diária, e dizia que eu poderia renegociar antes de executá-las as tarefas aprensentadas e, caso não quisesse cumprir alguma, poderia simplesmente ir embora e encerrar o acordo sem penalizações.

Li tudo uma, duas vezes. Aquilo parecia incompleto. Como assim não havia uma descrição detalhada? O advogado dissera a verdade: o selo de segurança estava intacto, e ele poderia alegar desconhecimento se eu questionasse algo. Minha cabeça trabalhava rápido, tentando juntar as peças, mas não conseguia. Meu primeiro impulso foi pegar o telefone e ligar para esclarecer tudo, mas temi parecer uma idiota. O melhor seria levar os documentos para casa e analisá-los com calma. A linguagem era direta, sem juridiquês, como se fosse algo feito para ser compreendido rapidamente.

No caminho de volta, peguei um ônibus. Enquanto olhava pela janela, lembrei-me de que havia esquecido de perguntar ao advogado sobre os valores do uber que eu não peguei. Mas, pensando bem, se o fizesse, deixaria claro que estava desesperada por dinheiro — e essa não era a impressão que eu queria passar.

Perdida em pensamentos, minha mente vagou até o cliente. Ele não era velho, devia ter no máximo trinta anos. Seu corpo era perfeitamente esculpido, os dentes brancos destacavam um sorriso lindo que enfeitava um rosto perfeito. Queixo quadrado, barba propositalmente malfeita…

Sem perceber, minhas coxas se apertaram uma contra a outra. Algo pulsava dentro da minha calça justa.

Meu Deus… estou me molhando aqui, dentro do ônibus?

A imagem dele invadiu minha mente. O volume na sunga que vi nas fotos. Meu desejo de tocar aquele peito definido. Sua voz, dizendo baixinho no meu ouvido:

Eu te amo. Hoje, você é minha.”

Um sorriso malicioso escapou dos meus lábios. O ônibus estava quase vazio. Meu terno dobrado e minha bolsa cobriam meu colo, escondendo meu pequeno plano. Minha mão deslizou para baixo daquela barreira improvisada, e um toque leve bastou para confirmar: eu estava extremamente sensível.

O choque do contato me fez prender a respiração. Precisei me apertar com força para sentir algum alívio. Durante toda a viagem, continuei me acariciando, discretamente, sob os olhares dispersos de quem apenas subia e descia do ônibus.

Quando finalmente cheguei ao meu ponto, senti-me escorregadia ao caminhar.

Meu Deus… eu realmente tentei me aliviar dentro de um ônibus?

Assim que entrei no prédio, deparei-me com os homens da companhia elétrica prestes a cortar minha luz mais uma vez.

— Ei, moço, se eu mostrar o comprovante, o senhor não corta?

— Boa tarde, senhora. Sim, só me mostrar que eu cancelo o corte!

Peguei o celular e paguei a conta ali mesmo, na portaria. Meus vizinhos passavam por perto, tentando não reagir à situação. Talvez por respeito. Para mim, aquilo já era tão comum que nem me envergonhava mais.

— Pronto, moço! Está pago. Desculpe o trabalho.

— Nada, moça. Passar bem!

Ele saiu pela porta, e eu subi para meu apartamento.

Tirei as roupas de trabalho e me sentei no vaso, celular na mão. Minha calcinha estava molhada, uma prova física do quanto aquela situação mexia comigo.

Na tela, a última mensagem dele. O que eu deveria responder?

Acabei enviando apenas um “Oi”.

Meu coração batia acelerado. Eu precisava entender que tipo de coisas aquele homem esperava de mim. Queria estar preparada. Eu sabia que estava entrando em algo que, no fundo, era um tipo de putaria louca de gente rica. Mas e daí? Eu tinha um plano que estava mudando: aceitar por um tempo, resolver minha vida e depois sair.

Minutos depois, ele respondeu:

“Soube que esteve com o advogado e assinou os papéis. Gostaria de saber se aceitou minha proposta.”

Fazia menos de duas horas que eu saíra do escritório, e ele já estava informado. Respondi:

“Sim, tudo certo. Mas eu gostaria de entender o segundo documento. Você determina um valor inicial de diária para que eu execute tarefas, mas não descreve a natureza das tarefas. Que tipo de coisas você quer que eu faça?”

Essa era a pergunta que mudaria tudo.

O tempo de resposta foi longo demais. Meu nervosismo aumentava a cada minuto. Depois de dez minutos, finalmente, a mensagem chegou:

“O que eu quiser. É simples. Eu peço algo, você faz. Se não quiser, pode ir embora. Acho que isso está bastante claro. Quando estiver pronta para me obedecer, envie uma mensagem e combinaremos nosso primeiro encontro. Não vou mais me estender em explicações. Aguardo seu contato.”

Obedecer?

O que exatamente ele queria dizer com isso?

Eu sabia que envolvia sexo, mas até que ponto? Que loucuras ele poderia estar planejando?

Sempre me considerei limitada nesse campo. Não sei se isso vinha dos meus relacionamentos ou de mim mesma. Minhas amigas sempre compartilhavam suas histórias picantes, me deixando surpresa e, às vezes, até curiosa. Para ser sincera, o mais ousado que já fiz foi um amasso na escada de incêndio de um prédio e um oral dentro de um carro. Claro que já fui convidada para coisas mais intensas, mas nunca tive coragem. Medo e culpa sempre foram minhas companheiras.

Minha mente divagava, imaginando as possibilidades. Um misto de desejo e apreensão tomou conta de mim, e, sem perceber, logo estava explorando minhas fantasias com apenas minha própria mão como companhia.

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