O barco de pesca, um teco-teco valente, deslizava sobre as águas verdes como se rasgasse a seda líquida do mar. O sol, um senhor generoso, derramava sua luz dourada sobre nós, enquanto o vento, atrevido, desmanchava nossos cabelos, desfazendo nós e desatando amarras, como se nos lembrasse que liberdade é mais do que um lugar — é um estado de espírito.
O mestre da embarcação, um velho endurecido pelo sal e pelo tempo, dissertava sobre os perigos de duas mulheres sozinhas em uma ilha deserta. Seus avisos, no entanto, se dissipavam como espuma contra a proa — o medo não nos acompanhava, apenas o desejo de existir sem moldes, sem olhos que nos julgassem, sem fronteiras que nos limitassem.
Eu a observava, absorta. Seu riso, leve e sem pressa, era um desafio ao mundo, uma promessa de que a felicidade pode ser insolente, pode desobedecer. Ela irradiava juventude, transbordava vida, e seu entusiasmo feroz acendia em mim a vontade de ser mais, de sentir mais. Eu a amava — de um amor que não pedia licença, que me empurrava para o abismo do querer sem volta.
A ilha seria nossa testemunha. Um pedaço de terra cercado por mar e silêncio, onde o único eco seria o de nossos desejos. A noite nos pertenceria — e eu ansiava pelo instante em que a escuridão nos engoliria inteiras, dissolvendo qualquer resquício de mundo além de nós.
Um transbordo desajeitado depois, com os últimos sermões do velho marinheiro sendo levados pelo vento, nossos pés finalmente tocaram a areia quente. A ilhota, intocada e proibida para humanos, nos acolhia como cúmplices em um crime doce e libertador. O mar, ao nosso redor, murmurava segredos antigos, e o sol, já mais baixo no céu, parecia nos espiar, curioso por nossa chegada.
Montamos o acampamento com precisão quase ritualística — seguindo os manuais, erguendo nossas barracas como se fincássemos raízes em um mundo que não era nosso. Na mochila, o essencial: água, comida, medicamentos de emergência. O velho barco nos buscaria ao amanhecer, mas até lá, a ilha nos pertencia.
Exploramos ao redor, os pés afundando na areia fofa, os olhos absorvendo o abandono perfeito daquele pedaço de paraíso. O som das ondas e o canto disperso dos pássaros eram as únicas testemunhas da nossa presença. Não havia pegadas além das nossas. Nenhuma alma viva além de nós.
De volta ao acampamento, nos trocamos, desfazendo nós, afrouxando amarras, como se a ilha exigisse de nós um outro tipo de nudez. Ela puxou o biquíni da mochila e, com um sorriso travesso, perguntou:
— Por que a gente tá colocando biquíni?
Franzi o cenho, rindo.
— Como assim? Quer ficar tipo Largados e Pelados?
Ela mordeu o lábio, os olhos faiscando como uma criança fazendo arte.
— A gente pode ficar peladonas aqui.
O riso dela era um convite, um desafio, uma confissão do que eu já queria — ali, não haveria limites.
E nuas, corremos pela areia quente, sentindo cada grão sob os pés, cada sopro de vento brincando com nossa pele exposta. O ar da terra, abrasador, se chocava contra a brisa salgada do mar, e juntas, essas forças opostas dançavam sobre nossos corpos, criando uma nova linguagem de contrastes entre desejo e entrega.
Mergulhamos. O choque da água fria me fez prender o ar, endureceu meus sentidos, acendeu arrepios na pele já quente. O mar nos abraçava como um amante paciente, deixando que nos dissolvêssemos nele. Sentia o sol queimando partes de mim que raramente viam sua luz — uma sensação nova, uma carícia inesperada.
Ela girava na água, rindo, os cabelos molhados flutuando como um véu. Nos movíamos como sereias em seu reino líquido, dançando sem pressa, abraçadas pelo azul infinito. Beijos salgados se misturavam a toques atrevidos, carícias que desenhavam promessas silenciosas sobre a pele. O desejo se infiltrava entre os dedos, entre os lábios, entre os corpos que se buscavam, que se pertenciam.
Enroscadas em beijos que tinham o gosto do mar e da ânsia, nossas mãos percorriam caminhos conhecidos e, ainda assim, sempre novos. Peixinhos curiosos mordiscavam nossas pernas enquanto dedos atrevidos exploravam territórios íntimos. O prazer, esse velho amigo, renascia ali — na liberdade crua da água envolvendo nossos corpos, no céu aberto testemunhando cada toque ousado, cada desejo desvendado.
Quando a noite caiu, o mar se transformou em um espelho escuro e sereno, refletindo o brilho das estrelas como pequenos incêndios flutuantes. Acendemos uma fogueira perto da água, as chamas dançando ao sabor do vento, projetando sombras inquietas sobre nossas peles nuas.
Estendemos tecidos sobre a areia fina, improvisando um leito sob o céu infinito. Preparamos algo para comer, brindamos, rimos. Celebramos — despidas não apenas de roupas, mas de qualquer vestígio do mundo que havíamos deixado para trás.
Agora era a lua quem nos cobria com sua graça. A luz prateada deslizava sobre nossos corpos salgados e marcados pelo sol, nos revelando em uma nova beleza — uma beleza selvagem, uma coisa mais livre para ser.
Ali, sob aquele céu sem testemunhas além do mar e do vento, pertencíamos uma à outra como o oceano pertence à lua — inexoravelmente atraídas, inexoravelmente entregues.
Quando reclamei do frio da noite, foi ela quem trouxe o calor para me envolver. Seu abraço chegou sem pressa, deslizando sobre minha pele como um convite silencioso. Beijou-me entre os cabelos emaranhados, seus lábios quentes roçando minha testa antes de me forçar, com doçura, a deitar.
Seu corpo encontrou o meu, o contraste de temperaturas nos tornando uma dança de fogo e brisa. Seu calor valente buscava me aquecer, e eu, entregue, me deixava envolver por seus cuidados.
Ela se aninhou sobre mim, seu corpo deslizando entre minhas pernas. O encontro de nossas peles, dos nossos sexos quentes e úmidos, despertava um arrepio sutil, enquanto nossos seios, de mamilos rijos, duelavam em uma provocação silenciosa.
O orgasmo nos arrebatou juntas, entrelaçadas, como um clímax que parecia não ter fim. Veio de mãos dadas, pulsante e avassalador, um desfecho inevitável de nosso desejo e nossa entrega.
Moles, caímos uma ao lado da outra, ofegantes, os corpos ainda trêmulos, quentes, úmidos de suor e mar.
Então, rompendo o silêncio eterno, ela sussurrou contra minha pele:
— Quer casar comigo?
O tempo parou. Meu peito se abriu em um abismo de emoção, e o mundo, de repente, ficou pequeno demais para conter tudo o que eu sentia.
A lua nos iluminava como testemunha, e eu soube, ali, que nunca existiria amor maior do que o nosso.
Eu disse sim.