O bloco de carnaval serpenteava pelas ruas da Zona Sul do Rio de Janeiro, um oceano de corpos suados e eufóricos entregues à festa. A música pulsava no ar quente, as velhas marchinhas misturadas ao cheiro de cerveja e desejo. Eu estava ali, rindo alto com minhas amigas, uma fantasia improvisada sobre o biquíni de praia. O álcool corria solto nas minhas veias, e eu não me importava com os toques casuais, os braços que roçavam minha pele enquanto dançávamos apertados naquela multidão frenética. Beijava sem pensar, entregando meus lábios a qualquer boca que despertasse um mínimo de interesse. O carnaval não pedia nomes, só sorrisos e pele.
Foi então que a vi.
Alguns passos à frente, uma loura me observava. O olhar dela, de um azul impávido, era um convite indecente, um ímã impossível de ignorar. Seu sorriso de canto trazia um quê de provocação, uma promessa de perigos deliciosos. Mas era sua beleza que realmente feria — feria porque parecia deslocada, errada naquele caos de suor e cerveja. Os cabelos dourados, soltos sobre os ombros, pareciam intocados pelo calor sufocante. Sua pele, alva como uma escultura de mármore, destoava do sol impiedoso do Rio. Ela não parecia pertencer ali. E talvez fosse isso que a tornasse ainda mais hipnotizante.
Meu coração acelerou. Eu já sabia o desfecho daquele jogo. Mas não sairia de perto das minhas amigas. Não seria eu a dar o primeiro passo. Meus lábios se moveram em um sussurro quase inaudível:
— Vem cá.
Fiz um gesto discreto com o dedo, sabendo que ela entenderia.
Ela sorriu novamente. Mas, em vez de se aproximar, desviou o olhar.
— A piranha não quer me beijar! — gritei bêbada, rindo, atirando as palavras ao vento que foram abafadas pelo som do trio elétrico.
O bloco andou — é o que os blocos fazem — e, quando olhei ao redor, nem sinal dela.
Parecia que, de repente, o bloco inteiro havia ficado vazio. Um vazio estranho, incômodo. Todas as mulheres loiras começaram a chamar minha atenção. Cada rosto me fazia prender a respiração por um segundo, esperando que fosse ela. Mas não era. Eu a procurei em cada detalhe, em cada rosto que passava por mim, tentando reencontrar aqueles olhos que me hipnotizaram.
— O que foi, amiga? — uma amiga perguntou, percebendo minha inquietação.
— Nossa, vi uma mulher muito gata, mas ela sumiu… — soltei, ainda atordoada, sentindo a frustração esquentar minha pele mais que o sol.
Ela riu, inclinando-se para mais perto.
— Me beija, então.
Antes que eu pudesse reagir, ela me agarrou e tascou um beijo, rápido, desajeitado, molhado.
Empurrei-a de volta no mesmo instante, limpando a boca com as costas da mão.
— Sai daqui, sua hétera! Você nem gosta de mulher, cacete!
Ela gargalhou, sem um pingo de arrependimento, dançando de volta para a festa como se nada tivesse acontecido.
Eu sabia que deveria voltar minha atenção para a festa, deixar a energia do carnaval me levar em vez de me prender a um fantasma. Mas algo nela havia ficado grudado em mim, queimando na minha pele como uma marca invisível. Respirei fundo, tentando me convencer a seguir em frente, até que senti.
Uma mão deslizou pela minha barriga, as unhas arranhando de leve, deixando um rastro de arrepios na minha pele quente. O toque veio por trás, furtivo, provocador. Meus instintos gritaram que devia ser alguma amiga brincando comigo, e gritei em escândalo.
— Caralhoooo! Não faz isso, cacete! — xinguei, rindo nervosa enquanto me virava de supetão.
Uma surpresa.
E então, tudo parou.
A banda emudeceu. A multidão sumiu em um silêncio que, claro, era só da minha cabeça. Meu sorriso morreu nos meus lábios, e meu coração disparou, tão forte que podia senti-lo nas pontas dos dedos.
Ali, diante de mim, estava ela.
A loura. Minha loura.
De perto, era ainda mais absurda. Seus olhos tinham a intensidade de uma tempestade de verão, e o sorriso que brincava em sua boca parecia esculpido para a perdição.
— Quem foi que falou que a piranha não quer te beijar? — ela perguntou, a voz rouca da festa e cheia de provocação.
E antes que eu pudesse respirar, me beijou.
O mundo girou ao nosso redor, mas tudo o que eu sentia era o calor insuportável do corpo dela se fundindo ao meu. Ela se encaixou em mim sem esforço, invadindo o pouco espaço que eu tinha, sem hesitação, sem pedir licença. Me tomou por inteira.
Seus braços me puxaram com força, colando nossos corpos até não haver mais ar entre nós. Nossos seios se tocaram primeiro, deslizando suados na pele febril, deslizando como se já conhecessem aquele contato. O suor dela se misturou ao meu, quente, pegajoso, umedecendo cada curva, cada centímetro onde sua pele roçava na minha.
Ela respirava ofegante contra minha boca, e quando nossos lábios finalmente se encontraram, foi uma explosão. O beijo veio úmido, urgente, possessivo. Sua língua deslizou para dentro da minha boca, encontrando a minha em uma dança crua, sem ensaio, sem pudor. Ela sugou meus lábios com uma fome que fez minha cabeça girar, deixando um gosto salgado, embriagante, um sabor de verão e desejo.
Em meio a corpos desconhecidos, entre homens e mulheres que não faziam parte do nosso mundo naquele instante, minha mão encontrou o caminho até ela. Deslizei os dedos por sua pele quente, por baixo da saída de praia fina e úmida de suor, até alcançar sua bunda pequena e firme. Apertei com força, fincando as unhas o suficiente para arrancar uma reação.
Ela abriu a boca, talvez para protestar, talvez para gemer, mas nada saiu além de um suspiro profundo.
Ela queria mais.
Minha mão subiu por sua coxa, sentindo cada contração, cada músculo retesando sob meu toque. Sem hesitação, puxei o biquíni para o lado, abrindo caminho para mim ali mesmo, no meio da multidão. Seu corpo engoliu o tecido, e eu deslizei os dedos até seus recônditos, encontrando calor e umidade abundante.
Ela parou. Me olhou. Sorriu.
Respirou fundo.
Meus dedos exploraram seu centro, descobrindo texturas e camadas. Não estava completamente depilada — sua pele guardava uma maciez natural, uma penugem fina que roçava contra minhas digitais enquanto eu me aventurava por seus contornos. Ela era o tipo de mulher com muitas peles, muitos caminhos a serem percorridos. Com dedos hábeis, deslizei mais fundo, abrindo espaço, entendendo aquela anatomia única, quente e pulsante sob meu toque. Sua umidade era um convite escandaloso, uma mistura de suor e tesão, escorrendo fácil entre meus dedos. Meu toque deslizava nela sem esforço até que encontrei sua entrada, quente, querendo ser penetrada.
Uma falange penetrou devagar, testando o espaço, e o corpo dela reagiu no mesmo instante. O ar preso em sua garganta escapou num suspiro agudo, suas mãos fincaram-se nos meus braços num aperto forte, uma negativa silenciosa. Seus olhos estavam arregalados, seu rosto tenso em uma súplica muda.
“Aqui não, por favor.”
Porra nenhuma.
O pensamento queimou em minha mente como uma faísca elétrica.
Com a outra mão, ataquei pela frente, agressiva e decidida. Meus dedos encontraram o tecido encharcado do biquíni e o jogaram para o lado, expondo-a completamente. Minha palma cobriu seu sexo quente, e a ponta dos meus dedos encontrou seu clitóris rígido, latejando sob o toque.
Ela estremeceu inteira.
Um gemido abafado se perdeu contra a minha pele quando ela enterrou o rosto no meu pescoço, tentando conter o som, tentando não se entregar.
Não deixei que tivesse escolha.
Enquanto um dedo a preenchia, outro a torturava na frente, alternando pressão, deslizando, esfregando-a do jeito que eu sabia que a deixaria louca. Ela fincava as unhas nos meus braços, cada vez mais fundo, como se estivesse se segurando para não cair. Seu corpo oscilava entre fugir e se entregar, ora empinando-se para frente, buscando mais do meu toque, ora se afastando, tentando escapar do prazer que eu lhe impunha.
Mas não havia escapatória.
Meus dedos trabalhavam fundo, ritmados pela batida suada e frenética da música de carnaval.
“Tomara que chova,
Três dias sem parar
Tomara que chova
Três dias sem parar
Pois eu estou com muita vontade de me molhar…”
Ri do absurdo daquela trilha sonora inusitada, embalando o ritmo das dedadas como se fosse um jogo. Ela tentava retribuir, mas eu não deixava, segurava seu controle, a guiava pelo caminho que eu queria.
Mas então ela conseguiu. Um dedo certeiro me invadiu. O toque foi bruto, desajeitado, sem a destreza feminina — parecia um polegar.
Meu corpo reagiu no mesmo instante, o choque se misturando ao tesão de ser surpreendida. Meus olhos se fecharam, minha respiração travou por um instante, e então eu me entreguei.
Frenéticas, nos fodemos ali, mutuamente, os corpos colados em suor e desejo, a multidão alheia ao que acontecia entre nós. Cada movimento nos empurrava para mais perto do limite, cada toque nos afundava mais fundo nesse pecado suado de carnaval. O orgasmo veio forte, intenso, mas teve que ser engolido, contido entre gemidos abafados contra a pele uma da outra. O prazer nos sacudiu, nos fez tremer, nos fez esquecer que havia um mundo ao nosso redor.
Quando terminou, ela me beijou novamente, mas seu toque já não tinha a mesma voracidade de antes. Sem dizer seu nome, mostrou um mortal desinteresse em mim, apenas ajeitou suas roupas e sumiu na multidão, sem olhar para trás.
O mundo voltou ao normal. O bloco seguia. A banda tocava. Ninguém havia nos visto. Pelo menos era o que eu pensava. Olhei ao redor, procurando por minhas amigas, contando mentalmente cada uma delas.
Faltava uma.
Virei-me devagar, e ali estava ela.
A mesma amiga que tinha me beijado mais cedo.
Colada atrás de mim, lambendo lentamente o próprio polegar que parecia molhado antes de levantar a mão e me dar um joinha malicioso.
E então, sorrindo, começou a cantar em deboche:
“Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor, ô ô ô ô ô ô…
Atravessamos o deserto do Saara
O sol estava quente
Queimou a nossa cara…”
O riso escapou da minha boca antes que eu pudesse conter.
Porra de tesão.
Porra de amigas.
Porra de carnaval.